quarta-feira, 22 de julho de 2009

Nas Margens de um Despotismo Esclarecido

Viva o sangue democrata. A quebra da ditadura militar ampliou a moral e a intelectualidade do destino humano. O despotismo esclarecido encontra-se sob poeiras. A moda é parlamentarismo, embora paire, como vestígios assombrosos de fumaça após uma guerra pela informação, uma amedrontada semelhança de ideais contemporâneos e principiantes com Auschwitz. Não há o que temer, ainda é cedo para que o terror bata às portas da sociedade - sobre o desconhecido não perdura o medo, mas a mera curiosidade.
A era de princípios totalitários ocasionou uma verdadeira epidemia, embora salva estivesse uma minoria sóbria e desprendida do pensar coletivo. A unificação ideal reúne, senão a integridade e o bom senso na diversidade de conceitos, uma perigosa manivela em não mais do que duas mãos, que conduz a sociedade por meio de algo que ninguém ousaria em atribuir quaisquer outros termos que não fossem o consciente coisificado de Theodor Adorno. Basta mirarmos os homens minuciosamente e veremos, distante deles, separada e reclusa, como uma auréola angelical em oposição, a humilde consciência. O homem necessita de um espelho para indagar constantemente a si próprio quem o comanda - e depositar sobre o chão, até abaixo de seus pés, notas de dinheiro e alguns valores dissimulados. Louvemos a barbárie como uma depravação da cegueira social, e honremos a morte de tantos heróis que entregaram a vida enaltecida pelos direitos e pelos motores da história - segundo Karl Marx, e traduzindo a esse conceito, as guerras.
Até que alcancemos as vendas que restaram após a era dos grandes ditadores para que sejam retiradas, a educação permanecerá moldando a capacidade racional de quem representa a esperança de uma reforma social, e o ensino será apenas uma doutrina que induz ao pensamento. A exigência de que um ideal reformista seja pregado é temida, e beira a utopia. O comodismo e a aceitação de um benefício mal intencionado são preocupantes. A teorização limitada consiste na praga dos tempos modernos. Obras de super-heróis das práticas capitalistas apodreceram na estante, assim como as idéias dos adeptos da marcha pela libertinagem dos conceitos sociais podem esmaecer com o passar dos anos, com a ausência de exteriorização ou ainda, com matrícula nas escolas ou horas seguidas de televisão. Pão e circo, pizza e novela. Pobre do cidadão que teme a violência externa, com a essência diariamente ferida de sua integridade mental assumindo, inconsciente e todo coisificado, a subordinação. Eis o despotismo. Conforme a poeira da futilidade abaixa, brotam cenas de eufemismo da realidade social.
Fatos sociais são cíclicos. Viva a ditadura.

2 comentários:

  1. Aproximadamente 500 mortes registradas na época da ditadura. Hoje 4000 mortes por semestre nos grandes centros urbanos!
    Saímos de um estado autoritário e entramos em um ausente!
    Qual é a diferença entre as nossas favelas e os campos de concentração?

    Nada mais a declarar!

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  2. Poucas palavras

    "...induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento autoritário do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente nos seus efeitos ... que a perfeição do poder tenta tornar inútil a actualidade do seu exercício..."

    A "Sociedade Disciplinar" de Foucault constata que a sua singularidade reside na existência do Desvio diante a Norma, contudo nesse período ditatorial, a Norma é que foi desviada no intuito da "Salvação Nacional", desviada em detrimento da população opositora ao governo.
    E hoje, parafraseando Renato Russo
    "Porque o terror continua
    Só mudou de cheiro
    E de uniforme"

    ótimo texto

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